Monday, March 14, 2011

A Lua vem da Ásia

 Gostei do espetáculo. Fez-me refletir sobre potencialidades. O ator errou o texto. Mas isso não foi problema. Sua dicção e a velocidade em que falava me surpreenderam. O texto mais ainda.
O melhor foi o videografismo?! Bom nem sabia que essa palavra existia. Mas apreciei as nuvens ainda que a música me tenha causado tristeza.  Abaixo, alguns trechos.



Resumo
A lua vem da Ásia, cuja primeira edição é de 1956, é a narrativa conduzida por um louco, de início interno em um hospital psiquiátrico, e a seguir evadido, perambulando pelas ruas de cidades tão imaginárias quanto todo o universo em que vive seu narrador de nome protéico, narrativa rigorosamente dentro da imaginação produtora do espaço ficcional. Campos de Carvalho (1916- 1998), seu autor – nome praticamente alijado, ou estranhamente subestimado da historiografia literária brasileira – , considerava esta novela sua primeira “produção adulta”, à qual viriam se juntar Vaca de nariz sutil (1961), A chuva imóvel (1963) e O púcaro búlgaro (1964).






“A Lua vem da Ásia” conta, em forma de diário, a trajetória de um ser incomum, pelas mais diversas geografias possíveis e impossíveis, em busca de um entendimento e justificativa perante a vida (e a morte), desafiando com muita ironia a lógica deste mundo, como mostra um trecho da obra:

Quando em 1934 atravessei sozinho o deserto de Iguidi, tendo por única companhia um casal de borboletas, ocorreu-me a aventura mais surpreendente que pode ocorrer a um homem vivo ou morto, e que procurarei resumir em três linhas. Foi o caso que um dia despertei transformado em mulher e, nessa qualidade, fui pouco depois recrutado para o harém do sultão de Marrocos, onde servi como pude durante um ano e 14 dias”.

"...Tudo isso do meu passado eu conto para que se possa ter uma idéia exata da minha
situação.

Carta aberta ao Times denunciando sua situação – e a dos demais internos – de prisioneiro:
Embora de pijama, vejo-me obrigado a representar a VV. Exas. contra o abuso inominável de que vimos sendo vítimas, eu e outras pessoas igualmente respeitáveis, num campo de concentração dos muitos que devem existir por este mundo concentrado de hoje, e que não sei dizer se fica na Europa ou na Ásia ou mesmo na Polinésia, pois justamente este é o segredo maior que paira sobre as nossas cabeças, enquanto ainda as temos.
[...]
Mas o assunto desta, que coloco numa garrafa e jogo no cano de esgoto para que possa chegar até as mãos de VV. Exas., não é geográfico nem lingüístico, e sim estritamente moral e humano, como o foi o Sermão da Montanha, por exemplo, para só citar um exemplo famoso.

"Nosso caminho tem que ser como nosso esquife, único e individual, a menos naturalmente que prefiramos desintegrar-nos no ar, numa explosão de misticismo barato e de grande efeito, às barbas de Deus inexistente.

"Se não posso mudar o mundo, tampouco permitirei que o mundo me mude a mim, arrancando-me este câncer de mistérios e heresias que é toda a minha riqueza e que faz com que minha voz não seja apenas o grunhido de um porco, nem meu olhar apenas o olhar de um peixe dentro do aquário. (...) Aos que me chamem de bárbaro eu lhes respondo com uma barbaridade de légua e meia, e lanço-lhes à face o epíteto de sifilizados de que eles tanto parecem orgulhar-se, eles e seus antepassados barões,
condes e arcebispos."