Tuesday, September 27, 2011

p s i c a n á l i s e

especial hj da folha de sao paulo

"Serve para diminuir ao mínimo possível o sofrimento neurótico e o sofrimento banal, ou seja, reduzi-los ao que é totalmente inevitável; serve para tentar reorientar ou desorientar a vida da gente -desorientar é uma maneira de orientar! Enfim, serve para tornar a experiência cotidiana muito mais interessante. Pensando bem, quase tudo se inclui nessas três coisas"
CONTARDO CALLIGARIS
psicanalista e colunista da Folha
O maior desafio da psicanálise hoje são as fobias, a síndrome do pânico e outros "estados narcísicos", como diz Plinio Luiz Kouznetz Montagna, diretor-presidente da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo.
Neste mês de reflexão -já que a entidade celebra 60 anos de filiação à IPA (International Psychoanalytical Association)-, o psicanalista diz que esse campo está em plena fase de desenvolvimento. Ele conta como um método demorado, profundo e caro sobrevive neste mundo imediatista, em que remédios se colocam como alternativa à conversa terapêutica.
“Psicanálise não é "falar sobre". A transferência é uma espécie de atualização do passado com o objetivo de permitir que o presente se instale. A análise permite que o passado fique no passado e a pessoa viva no presente. Essa é a libertação.”
OPINIÃO

Uma gramática dos afetos

Preferimos nos dopar a ter de encarar o exercício lento e inseguro de pensar de outra forma

VLADIMIR SAFATLE
COLUNISTA DA FOLHA

Desde que a psicanálise apareceu anuncia-se seu fim. Esse fim nunca chegou, embora algo como uma "cultura psicanalítica" presente nas sociedades ocidentais tenha tido momentos de declínio.
Uma das maiores peculiaridades da psicanálise está no seu jeito de constituir um novo modo de compreensão de nossos afetos e conflitos.
Uma nova gramática dos afetos nasceu com ela, que moldou, de maneira decisiva, a autopercepção do sujeito contemporâneo. Nossa visão de família, sexualidade, moralidade e corpo são incompreensíveis sem a referência à psicanálise.
Os anúncios insistentes do seu declínio podem ser vistos não só como uma querela a respeito da eficácia de dispositivos clínicos. Trata-se de fornecer às nossas sociedades ocidentais outra gramática dos afetos.
Alguns podem achar estranha a afirmação segundo a qual o destino de uma prática clínica não estaria, necessariamente, associado à reflexão sobre sua eficácia.
A psicanálise nunca foi um conjunto estático de procedimentos e conceitos. Um leitor atento de Freud sabe que ele age a todo momento como alguém testando e abandonando hipóteses.
Além do que, o debate psicanalítico modificou-se graças a Jacques Lacan, Donald Winnicott, Bion, Otto Kernberg, entre tantos outros.
O que não mudou e, por isso, define a perspectiva psicanalítica de maneira decisiva, é a crença de que o sofrimento psíquico não é dissociável da compreensão que o paciente tem de sua doença. O sofrimento coloca em questão a vida do sujeito, seus ideais de autorrealização, seus valores morais, sua ideia de si mesmo.
É uma maneira de lembrar que não é só o corpo que nos faz sofrer. Podemos sofrer por nossas ideias e valores. Podemos até fazer com que o corpo seja veículo da dor causada por ideias e valores.
Nesse sentido, uma das grandes contribuições da psicanálise foi a compreensão de que a constituição de ideias e valores que orientam nossa vida é sempre conflitual e contingente. Tais conflitos voltam em vários momentos, nos obrigando a produzir novos acordos, a pensar de outra forma.
E nada mais aterrador do que se ver na necessidade de pensar de outra forma. Preferimos nos dopar a encarar o exercício lento e inseguro de pensar de outra forma.
Essa é, talvez, a essência da especificidade da psicanálise. Sua gramática dos afetos nos traz uma maneira de nos descrevermos em que noções como conflito, contradição, contingência e insegurança são fundamentais. Sua clínica visa permitir ao sujeito desenvolver habilidades para conjugar tal gramática.
Nenhum psicanalista responsável negaria hoje o uso de medicamentos em situações de quebra subjetiva. A questão é a crença de que o tratamento deva ser reduzido ao setor da farmacologia. Tal redução é feita em nome da implantação de outra gramática dos afetos, no interior da qual nossa vida poderia ser otimizada, calculada a partir de equações que nos garantiriam boa performance no trabalho, na vida sexual, no casamento.
Uma vida em que a linha separando a normalidade da patologia é feita em traços não problemáticos. Tudo rápido, mesmo que precisemos tomar antidepressivos anos a fio. Por isso, por trás de querelas sobre modelos de tratamento psiquiátrico, sempre encontraremos uma questão maior, a saber: que tipo de pessoa queremos ser.
RESUMO DA ÓPERA
De onde vem, para onde vai

Entenda as principais ideias que movimentaram a psicanálise desde a origem até agora

GUILHERME GENESTRETI
DE SÃO PAULO
AS INFLUÊNCIAS

FINAL DO SÉCULO 19


JEAN-MARTIN CHARCOT
(1825-1893)
Neurologista francês, aplicava a hipnose para tratar pacientes histéricas no hospital em Paris em que Freud fez estudos de neuropatologia
Como influenciou a psicanálise: Seu método inspirou Freud a investigar a origem mental dos sintomas físicos da histeria
FINAL DO SÉCULO 19 E COMEÇO DO SÉCULO 20

JOSEF BREUER
(1842-1925)
Médico austríaco que colaborou com Freud em seu primeiro livro, "Estudos sobre a Histeria", de 1895
Como influenciou a psicanálise: Ao tratar uma paciente histérica, percebeu que os sintomas diminuíam quando ela falava sobre eles, inspirando Freud a desenvolver o método da associação livre
O TRONCO
PRIMEIRA METADE DO SÉCULO 20

SIGMUND FREUD
(1856- 1939)
Fundou a psicanálise ao desenvolver uma técnica para sondar conflitos psíquicos
Teoria: O comportamento humano não é regido apenas pela vontade consciente, mas por pulsões e pelas formações do inconsciente, região que armazena memórias, necessidades e desejos reprimidos. A origem do conflito psíquico remonta às fases do desenvolvimento psicossexual da criança (oral, anal, fálica e genital) e ao complexo de Édipo
Técnica: Pela associação livre, o analista propõe ao paciente falar o que lhe vem à mente, seja sobre seus afetos, sonhos ou outros sinais comunicados pelo inconsciente
A PARTIR DOS ANOS 50

JACQUES LACAN
(1901-1981)
Psicanalista francês, fundiu a teoria freudiana com os estudos de linguística e antropologia. Seus métodos, tidos como excêntricos, o levaram a ser expulso da Sociedade Psicanalítica de Paris por imposição da IPA -Associação Psicanalítica Internacional
Teoria: O inconsciente é constituído das próprias regras que estruturam a sociedade, cuja lógica é fornecida pela linguagem. Para entender os conflitos psíquicos, o analista escuta o discurso e observa as relações do paciente com a linguagem
Técnica: A sessão leva em conta o tempo lógico, definido pelo analista, e não o cronológico de 45 ou 50 minutos
OS SEGUIDORES
PRIMEIRA METADE DO SÉCULO 20

SÁNDOR FERENCZI
(1873-1933)
Psicanalista húngaro e seguidor de Freud, incentivou Melanie Klein a estudar o comportamento de crianças
Contribuição à psicanálise: Atuação do terapeuta deve ser mais ativa e menos distante do paciente para permiti-lo trazer à tona suas emoções

KARL ABRAHAM
(1877-1925)
Psicanalista alemão, foi discípulo de Freud e analista de Melanie Klein
Contribuição à psicanálise: O desenvolvimento de doenças como a esquizofrenia e a psicose maníaco-depressiva tem origem na fixação em alguma das fases do desenvolvimento psicossexual da criança
A PARTIR DOS ANOS 20

MELANIE KLEIN
(1882-1960)
Quem foi: Nascida na Áustria, influenciou a linhagem inglesa da psicanálise e foi uma das pioneiras em estudar crianças, que até então não eram analisadas. Suas teorias se chocaram com as de Anna, filha de Freud, para quem a abordagem de crianças só tinha um viés pedagógico
Teoria: Crianças manifestam desde cedo fantasias e emoções como a destrutividade, voltada, por exemplo, ao seio materno. O complexo de Édipo aparece nos primeiros meses de vida, sugerindo que os conflitos e desejos começam muito antes do imaginado por Freud
Técnica: O analista deve interpretar brincadeiras e desenhos feitos por crianças como manifestações precoces de expressão de emoções
A PARTIR DOS ANOS 50

WILFRED BION
(1897-1979)
Desenvolveu as ideias de Klein e formulou uma teoria sobre o comportamento de grupos em situações de crise
Teoria: A agressividade dirigida ao mundo externo não é mera patologia, como crê Klein, mas uma forma de comunicação do paciente que deve ser levada em conta pelo analista
Técnica: O terapeuta avalia a si mesmo na relação com o paciente e atribui a não evolução do quadro também à sua postura na análise
A PARTIR DOS ANOS 40

DONALD WINNICOTT
(1896-1971)
Pediatra britânico, seguiu uma terceira linha na tradição inglesa quando surgiu a cisão entre Melanie Klein e Anna Freud
Teoria: O ser humano está destinado a amadurecer psicologicamente, mas precisa de um ambiente confiável para isso. A análise não deve ficar restrita ao universo das fantasias infantis, mas incluir a relação da criança com os pais e com o mundo
Técnica: O analista recria o ambiente de segurança para possibilitar o amadurecimento do paciente
OS DISSIDENTES
PRIMEIRA METADE DO SÉCULO 20

WILHELM REICH
(1897-1957)
Psiquiatra nascido na atual Ucrânia, teve contato com as ideias de Freud, mas rompeu com a psicanálise tradicional por defender um engajamento político com o marxismo
Teoria: As neuroses se originam a partir de uma falha em dissipar a energia do corpo através do orgasmo
Técnica: Valoriza psicoterapias corporais para romper com a 'couraça' física e liberar a carga de energia. Inspirou técnicas como a bioenergética, a biodinâmica e a somaterapia
PRIMEIRA METADE DO SÉCULO 20

CARL JUNG
(1875-1961)
Discípulo favorito de Freud, rompeu com o mestre e fundou a psicologia analítica
Teoria: Nem todas as neuroses têm base sexual. Além de um inconsciente individual há também um inconsciente coletivo, compartilhado por todas as pessoas e de onde decorrem sonhos e fantasias
Técnica: O analista leva em conta o aspecto simbólico dos relatos do paciente e a sua relação com os arquétipos -padrões psíquicos universais, expressados pelo inconsciente
Fontes: Daniel Delouya, Adriana Nagalli, Nina Saroldi, Elizabeth Antonelli, Fani Hisgail, José Outeiral, psicanalistas

Ontem de madrugada uma árvore fez sombras na parede do meu quarto. Bobeira. Mas preferi ficar com o abajur acesso. Resultado é que não dormi tão bem.  E acabei me dando conta de alguns objetos não localizados depois do retorno da viagem: o cartão de memoria da máquina fotográfica e a mascara de gatinho da puket. Estão fazendo muita falta.  Todas as noites sonho que viajo,  e  sempre pago em dólar... é a fatura do cartão que não chegou!!! E o sonho meio que vai descambando para pesadelo real, em reais.  Do outro cartão de memória que não se perdeu, não gostei das poucas fotos. Deveria ter levado a  outra máquina....